(Arte: Diego Rivera)
Eis um bem necessário: Trabalhar. Não quando se está para entrar
em férias, mas quando se está prestes a sair delas. As férias
estão às portas, e está aí uma boa hora para se pensar um
pouquinho no sentido que damos ao trabalho. Talvez vejamos melhor o
trabalho longe dele ou fora dele. Muitos diriam até que é um mal
necessário, no entanto, trabalhar acaba sendo um bem necessário,
antes de tudo, porque é um valor insubstituível para a saúde de
qualquer cidadão, bem como para a sua sustentabilidade.
É óbvio que, como qualquer outra coisa na vida, o trabalho também
é uma falta quando da sua ausência circunstancial. Só se valoriza
o estudo quando se deixa de estudar. Só se valoriza o amor quando se
passa pelo deserto do desamor. Só se percebe a pessoa do lado até o
momento em que ela passa a não estar lá. Assim também é com o
trabalho. Sua falta é sentida a partir do momento que deixamos, por
alguma razão, de trabalhar. Com as férias, ausência de trabalho,
vem a monotonia, o tédio, o sedentarismo e todo tipo de males. Por
isso, o trabalho acaba sendo uma das boas saídas para uma vida
feliz, sobretudo quando o trabalho é a extensão da família que
enriquece o convívio social.
As férias não devem ser encaradas como um tempo de morbidez sem
fim, uma vez que são um período apenas de descanso e de
recomposição das energias gastas num intenso tempo de trabalho.
Sendo assim, nada mal que tenhamos um bom tempo livre para fazer
muito do que se gosta, como por exemplo; terminar aquela leitura que
ficou inacabada; caminhar com mais frequência para exercitar o corpo
e manter o equilíbrio emocional; cuidar um pouco mais de si;
dialogar com quem não se via há bastante tempo; visitar os amigos;
viajar e respirar novos ambientes... Enfim, volta e meia precisamos
tirar umas férias, até porque ninguém é de ferro. Sair das
rotinas e se desgarrar dos enfados do trabalho maçante e
burocrático, de atividades repetitivas por isso estressantes, nos
fazem muito bem.
Não há dúvidas de que a nossa natureza humana reclama descanso,
paz e um pouco mais de humor, porém há que se ressaltar, nisso
tudo, um certo limite de empolgação para com as férias, até
porque quanto mais nos acostumamos com elas e com o lazer, mais e
mais nos percebemos que somos homens do trabalho, seres que não
vivem mais sem trabalho. Essa é uma consequência dos famosos tempos
modernos trazidos pela revolução industrial, êxodo rural e inchaço
das grandes cidades. Trabalhamos visando à riqueza, ao lucro e ao
acúmulo de bens, ao capital. Isso nos levou a não trabalharmos
mais, mas a capitalizarmos, perdemos o sentido do trabalho que vinha
acompanhado do pensamento e do prazer. Todavia, não só pelo motivo
econômico de sobrevivência e subsistência, mas também pela
ocupação terapêutica, pela “salvação” mesma que o trabalho
nos propõe é que ele é tão indispensável nos dias atuais.
Tira-nos da inércia e nos põe em atividade, em movimento.
É desse ponto de vista muito peculiar que o trabalho acaba sendo
uma opção de vida continuada até mesmo para quem se aposenta e não
quer, de jeito nenhum, cair na invalidez. Aposentar-se hoje aos 60 anos
não é mais uma verdade, tampouco um sonho de muitos. Aposentar
deixou de ser um ideal a perseguir.
Acostumados com uma pauta exaustiva, extenuante e até certo ponto
corriqueira do trabalho não nos habituamos mais a um ritmo de vida
estático e cômodo comparado ao das férias. Talvez isso se deva ao
frenético ritmo de atividades que uma mesma pessoa pode desenvolver
hoje no mundo do trabalho. Desempenhamos as mais variadas atividades,
desde aquelas ligadas ao lar até às inúmeras outras ligadas ao
comércio, à indústria, ao estudo e etc. É bem verdade que nos
adaptamos a tudo, até mesmo ao mais duro dos muitos trabalhos, como
é o caso do trabalhador rural e do trabalhador de construção
civil; trabalhadores nos canaviais e pedreiros por exemplo. Estes, de
sol a sol, o dia inteirinho, não largam seus instrumentos de
trabalho porque precisam produzir ou render intensamente no labor que
desempenham.
Não importa o trabalho ou as suas diferentes formas, todos eles são
necessários para o desenvolvimento humano e cultural de um povo. O
que é indispensável fazer, além de fabricar e criar com as mãos e
outros membros do corpo, é arte com o trabalho. Trabalhar com arte é
permitir-se ao novo, ao desconhecido, ao inusitado. Trabalhar é
transcender à sua ordem do dia. Trabalhar é agradecer em meio ao
deserto, fruto da irritabilidade, do cansaço e da falta de vocação
para tal. Trabalhar é também comer o pão do suor de seu rosto.
Trabalhar, tal como se ouve música ou como se faz teatro, encenando,
representando, deixa de ser uma tragédia, um incômodo e passa a ser
arte, algo muito agradável.
Para terminar, não se deslumbre muito com as férias, pois assim
como se cansa do trabalho, cansa-se também das férias!
Prof. Jackislandy Meira de Medeiros Silva.
Bacharel em Teologia, Licenciado em Filosofia e Especialista em
Metafísica.
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