Aprendi
que quanto mais nos aproximamos de Deus, mais parecemos com Ele.
Quanto mais nos aproximamos das estrelas, mais parecemos com elas.
Engraçado, mas descendo gradativamente nessa visão, é possível
dizer ainda que quanto mais nos aproximamos das pessoas, mais nos
parecemos com elas; quanto mais nos aproximamos dos nossos pais, mais
nos parecemos com eles; quanto mais nos aproximamos dos nossos
amigos, também parecemos com eles; quanto mais nos aproximamos de
nossas esposas e vice-versa, mais nos assemelhamos a elas.
Descendo
escada abaixo, o procedimento é o mesmo. É possível fazer essa
relação de proximidade com tudo na vida, inclusive com as coisas,
com o mundo, com as estruturas sociais, políticas e culturais de um
modo geral. Embora se diga o contrário em alguns casos, o elemento
aproximativo é fundamental para não só conhecermos com quem
estamos lidando, mas com quem escolhemos para nos aproximar, para nos
relacionar.
Esta
mesma forma de aproximação se dá também com um livro, um animal
de estimação, um filme, uma história, uma ideia, enfim. Quanto
mais me aproximo de um livro, mais me pareço com ele. Quanto mais me
aproximo de uma ideia, mais me assemelho a ela.
Imersos
neste emaranhado de relações, seja com pessoas ou coisas, não
estamos imunes aos conflitos, às injustiças e às incoerências
deste mundo, pois reagimos de alguma forma. Mesmo quando não
reagimos externamente ou fingimos não reagir, ainda assim reagimos
positiva ou negativamente. E por mais que conheçamos as pessoas, o
próprio mundo e Deus por essa cadeia de proximidades, não quer
dizer que os riscos de uma traição, de uma certa leviandade ou de
golpes de crueldade não parem de nos ameaçar, até porque nunca
somos traídos por estranhos.
Na
maior parte das vezes, nossas aproximações também denunciam com
quem ou com o quê queremos parecer, com quem nos assemelhamos.
Obviamente que aceitamos o contraditório, uma vez que nem todo mundo
se parece com quem anda, com quem se relaciona ou com quem tem certa
amizade. Todo cuidado é pouco, pois com o passar do tempo somos
levados, até involuntariamente, a nos parecermos com o outro, cada
vez mais íntimo e próximo de nós.
O
nível de aproximação, claro, pode evitar uma série de investidas
negativas contra nós, porém a mesma aproximação pode nos fazer
entender que não são com todas as coisas ou pessoas que queremos
parecer. Ou seja, não é bom parecermos com tudo que nos
aproximamos, visto que muitos de nós não queremos parecer com o
traidor, com o maldoso, com o perverso e o saguinário.
Penso
que aproximar-se é, na verdade, uma tarefa importante para aqueles
que se sentem parte do mundo das intrincadas relações sociais, onde
muita coisa é meio obscura, sinistra e enganosa. Não há modo mais
eficaz, talvez, de desmascarar as coisas do que participar delas de
perto. Diria até que a proximidade do cidadão às instituições
sociais pode diminuir o nível de corrupção política nessas
instâncias, mesmo sabendo que, ao nos aproximarmos destas pessoas,
não gostaríamos de nos parecer com elas.
Ilustração: Alessandro Sbampato in [em] Revista nº 12
Prof. Jackislandy Meira
de M. Silva
Especialista em
Metafísica, Licenciado em Filosofia, Bacharel em Teologia e
Pós-graduando em
Pós-graduando em
Estudos Clássicos pela UNB e Archai Unesco.
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