O ser nos rodeia por toda parte, de modo que muitos são os caminhos para chegar a ele, que está sempre a nosso alcance, a despeito de não o perceberem os idealistas.
Duas noções afins: ser e ente. Uma definição de Tomás de Aquino explicita muito bem a afinidade: “ens est id cujus actus est esse” – “ente é aquilo que é puro ato de ser”. O ôntico e o ontológico. A coisa e o que a coisa é, ou seja, o objeto e o sentido do objeto. Uma coisa é o ser, outra coisa é o sentido pelo qual existe o ser.
Desde que o homem é homem, sempre buscou o sentido do ser, dos entes, das coisas em geral, muito embora estejamos ainda néscios diante do encontro com o verdadeiro ser das coisas. Ou não sabemos procurar ou não nos aplicamos em busca do ser. O fato é que o homem sempre pensou, buscou de alguma maneira o ser, mas, da maneira propriamente filosófica, começou a pensar na Grécia com Platão, Aristóteles... Os pré-socráticos.
Mais do que dizer o que as coisas são, na Filosofia, a gente se aproxima delas. Mas sempre há alguma luz para nos aproximarmos desta verdade do ser. É preciso que a gente esteja cego para não perceber, em nossa volta, a existência do ser.
O ser tem a ver com o conhecimento porque este é uma relação entre o sujeito cognoscente e o objeto conhecido. O ser conhecido ou cognoscível é posterior ao ser. O objeto pressupõe o ser da coisa, o idealismo. Cabe no ser uma notícia de objeto para sua manifestação. Com a idéia de ser e ente não há distinção, mas o ser é o que os entes têm em comum, e o ente é o sujeito de cada ser. “O ente é aquilo cuja forma ou realidade consiste em ser”(Tomás de Aquino). Portanto, ôntico é aquilo que diz respeito ao ente; ontológico é o que pertence ao conceito em torno ôntico do ente.
O ser é indefinível, ele é tão geral que não cabe ter uma definição. Deus é simples, nós é que somos compostos. Nós conhecemos a Deus pelo desconhecido. Do ser não há conceito genérico e nenhuma diferença específica. Dizer o que é o ser é cair numa tautologia, numa repetição de nomes. O ser no seu claro escuro ilumina os demais entes. O que é que todos os entes têm em comum? É o ser, a todo ente corresponde o ser. Portanto o ser é uno, nesta grande multidão.
O conceito de ser é o mais supremo e o mais abstrato, em consequência não lhe cabe um conceito, uma definição. Ao máximo, no limite, nós podemos chegar com o conhecimento. Situação limite no qual não posso passar, não posso avançar, um problemático misterioso. A primeira aporia com que nós topamos é algo que nos intriga, haja vista a aporia de Parmênides. Portanto, buscar o ser é uma procura intrigante.

Jackislandy Meira de M. Silva, professor e filósofo.
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Bento de Espinoza foi o terceiro filho dos judeus portugueses Ana Débora Sénior e Miguel d’Espinosa. Nasceu em 1632, em Amsterdã, Holanda. Durante muitos anos dedicou-se à produção de obras filosóficas voltadas para a Ética, Teologia e Política, vindo a falecer de tuberculose no dia 21 de fevereiro de 1677. Dentre as suas obras, destacam-se “Tratado da Emenda do Intelecto, o Breve Tratado” e o “Tratado Teológico-político”. Bastante inquieto contra as crenças supersticiosas de sua época por ameaçar a prática da Filosofia e a prática da liberdade, viu-se impelido a demonstrar um pensamento que desconstruiu toda uma concepção judaico-cristã de Deus, ou seja, ele desconstrói a nossa visão de Deus, inaugurando uma outra. É o que veremos...
O Deus que me fascina é o da tradição cristã bastante presente em todo o Ocidente, que se revelou extraordinariamente na pessoa histórica de Jesus de Nazaré, assumindo ainda algumas características do Deus todo-poderoso de Isaac, Jacó e Moisés, oriundo da cultura judaica.
Esse Deus é uno e trino. Uno porque salvaguarda o monismo de que só Ele é Deus, Criador e Senhor do universo, do mundo. Trino devido à sua mostração, enquanto encarnado definitivamente na história, por isso é pessoal e revela-se em três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. Há em Deus uma consciência e uma vontade divinas. Pois o perfil desse Deus é eminentemente pessoal, catalisando n’Ele a salvação de todos os homens, como um télos para alcançar, um modelo a perseguir.
Resta-me ainda afirmar não só a Transcendência, mas também a imanência desse Deus no que diz respeito à sua presença em nós pela ação do Espírito Santo. Deus que está fora e, ao mesmo tempo, dentro de nós.
Assim como Nicolau Copérnico fez com o geocentrismo e Galileu Galilei com o telescópio ao observar imperfeições na lua, do mesmo modo o fez Espinosa em relação a Deus. Este em Espinosa é absolutamente imanente. Se Deus é o todo como pode estar fora do todo? Então, Deus não seria Deus. O Racionalismo absoluto de Espinosa, singularmente, é imanente porque é diferente de Malebranche, Leibniz, Kant e Descartes.
A diferença entre nós e Deus é apenas de potência. Segundo Espinosa, Deus não é criador, mas produtor da potência. O homem é o “modus” de Deus. Deus é impessoal e por isso não tem vontade e não pode escolher. Depreende-se disso que toda a noção cristã do Ocidente de Revelação e de Transcendência é eliminada, caindo por terra toda uma compreensão da ética cristã paradigmática.
Em Espinosa não há télos. Tudo é um constante devir comparável à força da natureza. A vida humana e divina se unem, não admitindo em si a dor e a paixão. Ele é ação pura, inalterável e infinitamente feliz. Nada de mais sublime do que o grito de alegria da natureza. Deus é a natureza. Tal como a natureza somos nós e Deus. Todas as coisas estão relacionadas à “causa sui” que é Deus, substância absoluta e necessária. Com isso, Deus é dinâmico, repleto de movimento porque é natureza.
Não há qualquer hierarquização de Deus em Espinosa devido à sua pura potência.
Finalmente, voltando ao conceito de Deus como natureza, nota-se que Deus está sempre se transformando, crescendo, movimentando-se. Deus não parou no sétimo dia para descansar, pois n’Ele não há motivo. Por quê? Não há motivo em Deus porque a sua essência é pura potência necessária de se produzir.

Jackislandy Meira de M. Silva, professor e filósofo.
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A lembrança de um dia ter sido melhor toma-me de angústia e de pesar porque, talvez, parei por algum tempo de evoluir em etapas. A história(entendam aqui a vida pessoal de cada um) é um longo percurso convidativo para o homem perseguir. É um caminho capaz de levar-nos a parar numa encruzilhada que aponta para duas vielas: a da vida e a da morte. Não sei se as duas nos merecem! Mas devo dizer que apenas uma nos atrai com um peso de verdade, a da vida.
O ser humano, munido de inteligência e vontade, portanto, liberdade, pode se servir desta, digo da liberdade, para fazer a escolha certa. Escolher a vida deve ser a prioridade de nossas atitudes, até porque somos frutos de nossas escolhas! Aí entra a função da liberdade que só existe, de fato, quando tomamos o rumo certo, verdadeiro. A razão, com isso, encontra motivos para prosseguir, seguir adiante, pois não é fácil deixar-se de ser convencido por moções artificiais e nebulosas ligadas à morte.
Assim, a razão jamais irá enganar o coração, porque, como diria Blaise Pascal, “o coração tem razões que a própria razão desconhece”. É próprio do coração humano encher-se de amor, no entanto há esse motivo que move qualquer homem, estanque em suas dúvidas e preconceitos a superar-se e a permanecer melhorando a cada novo dia pela via da vida. Porém, mais do que levar alguém a convecer-se pela razão é cativá-lo pelo amor, um amor que propõe aceitação para viver de modo íntegro uma indispensável condição, a de filhos de Deus.
A dimensão de filhos de Deus é a condição básica para o ser humano permanecer sempre disposto a lutar contra todas as dificuldades hodiernas que a vida, inevitavelmente, impõe. O que tem a ver, afinal, a questão da filiação divina com a preocupação de escolher a via da vida? Muito tem a ver. Além do fato de possuirmos o caráter cristão, temos a grandeza de que com isso permaneceremos no caminho proposto por Cristo como verdadeiro, o da vida. A conseqüência disso tudo, meus caros, é a nossa comunhão com Deus.
Abrir-se a Deus no decorrer de toda a vida é uma necessidade e uma satisfação eterna, pois seremos, dessa forma, habitação, lugar onde mora Deus: “Se alguém me ama, guardará minha palavra e o meu Pai o amará e a ele viremos e nele estabeleceremos uma morada”(Jo 14.23).

Jackislandy Meira de M. Silva, professor e filósofo.
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Estou mais uma vez pensando! Já é hora de dormir. Tudo pára a minha volta, mas algo se move como um relâmpago, o silêncio. A tranqüilidade, a bondade, a ternura e a oração são minhas maiores amigas, nesta noite de paz e de agradecimentos. O meu corpo agora já não tem força e domínio sobre minha alma, e também sobre meus olhos que pesam de sono causticante do dia.
Entrego-me vagarosamente ao sono, na felicidade esperançosa de um novo dia acontecer; de novamente o sol mergulhar em minha existência; de felizmente ouvir os pássaros cantarem; de um novo céu aparecer e de nuvens brancas se encherem como em dias de verão. É um estupendo fim de noite que pede um dia claro e luminoso, semelhante a um sorriso de dentes sadios que se combinam alegremente, pois são os sorrisos francos e sinceros da alegria circunstancial de viver dignamente que transpõe os problemas da vida. Mas volto a descrever um recolhimento sadio, porque termino o dia límpido e, de todo, sereno. A contemplação junta com o coração faz de mim um simples instrumento que precisa viver o seu fim, Deus. E, agora, nesta interiorização noturna, eu O vivo e O sinto intensamente como se alguma brasa estivesse me queimando e que eu percebesse não a dor, mas o gozo do sofrimento, o gozo da dor, em outras palavras, a conversão do pecado. Pois, vendo ou experimentando na carne o pecado, eu me livrasse dele e superabundasse em mim a graça, o amor e a vontade de Deus.
Boa noite, Papai do céu(abbá – paizinho), e que o dom da vida, todos os dias, seja a expressão mais autêntica de Tua existência, ó Pai!

Jackislandy Meira de M. Silva, professor e filósofo.
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Bem, a teologia nos ensina a entrar simultaneamente em duas ordens de visão: ver Deus a partir das coisas e ver as coisas a partir de Deus. Deus aqui como elemento essencial de compreesão do mundo, de mim mesmo e do próprio Deus que nos permite viver n’Ele: “Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus”(Mt 5.8).
Para entendermos um pouco melhor a Teologia é importante pensar que ela se caracteriza com todos os seus elementos substanciais e constitutivos num texto bíblico da 1Pd. 3.15ss. Este texto mostra os pontos fortes da Teologia: “Antes, santificai a Cristo, o Senhor em vossos corações, prontos a dar razão de vossa esperança em todo aquele que vo-la pede”.
O primeiro ponto da Teologia é a experiência vivida da fé. O segundo é o logos, o aprofundamento racional, crítico e sistemático da experiência de fé, do ato de fé. O terceiro elemento é o interlocutor. Este se destaca na passagem que diz: “... dar razão de vossa esperança em todo aquele que vo-la pede”. Este interlocutor pode ser uma pessoa, uma situação histórica ou uma cultura.
A Teologia é a ação de Deus que se concretiza na experiência de fé. É o encontro do homem com Deus. É Deus que vem ao seu encontro para lhe dar uma resposta de Sua vontade. Portanto, a Teologia é Teologia porque reconhece a resposta de Deus ao homem. Admite e parte de uma novidade total e absoluta de um ser gerado de novo, de um nascimento novo e de um crescimento novo para aprofundar esta Revelação, para fundamentar as razões da minha esperança.
Logo, Teologia é o sair de Deus que se revela e que produz no homem uma experiência de fé, de entrega total e exclusiva a Ele. É uma experiência que recebemos de Deus para conhecê-Lo e a devolvemos como forma de gratidão e amor por tê-Lo conhecido. Vejam como é interessante, Deus nos toca para vê-Lo e nós o amamos por termos visto.
Jackislandy Meira de M. Silva, professor e filósofo.
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